Tem dias que a alma acorda antes do corpo. E tudo que se sente é falta. Falta deles. Falta daquele bom dia que costumava chegar no celular, daquelas mensagens que vinham com o carinho de todos os dias, às vezes só um “bom dia”, e aquilo já bastava pra aquecer o peito. Mas não era só isso. Havia também os que estavam perto, tão perto, que bastava atravessar o muro. Os que cruzavam a porta do meu quarto só pra saber se eu tinha dormido bem, se algo me incomodava. Os que despertavam comigo, e antes mesmo de pensar no café, eu já passava no quarto deles pra ver como estavam, se haviam descansado, se precisavam de algo. A presença deles fazia parte da rotina de acordar. Era abrigo. Era certeza. Era amor que não precisava de explicação.
A ausência deles agora é um silêncio que não sabe se acomodar. Tem dia que ela grita, outros em que apenas se deita ao lado e não deixa a gente levantar. E tudo ao redor parece desalinhado. O café perde o gosto. As horas se arrastam. A memória insiste em voltar a cenas que não se repetirão. E por mais que a vida siga com compromissos e gente ao redor, há momentos em que tudo parece pequeno demais diante do buraco que essa ausência escavou por dentro.
Não tem como se acostumar. Não tem como preencher. Porque não é só falta — é um tipo de saudade que tem nome, que tem rosto, que tem história entranhada na pele. A gente vive com ela como quem aprende a andar mancando. Toca os dias, responde sorrisos, faz o que precisa ser feito… mas carregando uma dor que ninguém vê. E às vezes, sem aviso, ela transborda — e a lágrima vem.
E por mais que os dias passem, a saudade continua crescendo. Ela não vira costume. Ela vira parte. Parte da pele, do olhar, da memória que insiste em projetar os rostos deles onde não estão mais. A gente passa a viver com essa presença ausente. Aprendemos a conversar sozinhos, esperando alguma resposta do céu. E há dias em que daríamos tudo por uma única palavra vinda de volta.
Hoje, a saudade acordou primeiro que o sol. E eu a deixei ficar.
Autoria: VALENTIM, Lameck. Oeiras- PI. 02 de julho de 2025.
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Crônica